15 de nov. de 2016

Carta pra quem não foi, não é e nunca será

Outra terça dessas comuns eu estava jogada na minha cama, com um dos dois botões da calça aberto e franzindo a testa por causa do sol escaldante que insistia em pousar no meu rosto. E lembro que, naquele mesmo dia, senti vontade de escrever sobre você, e não pra você. Mas o sentimento era tão inveterado que a possibilidade de surgir palavras à mente que o descrevessem com clareza era longínquo, não havia fatos, já não existiam conversas afetuosas nem um coração pulsante, seja de dor ou de... bem, eu não sei o lado positivo disso. Esqueçamos essa parte. Embora essas coisas estivessem me impedindo, exigi um esforço de mim mesma pra tentar fazer uma limpa. E, se por acaso estiver lendo isso agora - o que acho pouco possível - saiba que essa carta é pra você.

Nós já dissemos coisas, já compartilhamos o incompartilhável e mantivemos uma linha tênue entre algo puro e bom e o impenetrável e sujo. Falando nisso me lembrei de uma cena muito irreverente que constantemente aparecem nos filmes, novelas e afins. Quando o casal, em seu momento íntimo, jogam as coisas, chutam, empurram, afastam tudo a fim de ter o maior conforto possível pra praticarem você sabe o quê. Agimos tal qual; você não se recorda? Mas nossos corpos não chegaram a grudar nem entrar numa combustão, mas você afastou tudo de nós quando poderíamos só não nos importar, apesar de eu, desde sempre, ligar meus pensamentos nisso. Você afastou tudo e, como se não bastasse, me afastou. Eu olho pra você e, em retrospecto, as imagens vêm como se não fizessem parte de um passado enterrado, mas, sim, de algo vivo. E eu odeio ter que decidir se é passado ou presente. Quando você some, é passado, quando vem, presente. Mas, semelhantemente a antes, eu não imagino um futuro. Não consigo liberar a minha mente pra isso. Seria um suicídio. Às vezes, ao telefone, gosto de imaginar que você sempre tem algo a mais pra dizer toda vez que você engole a saliva e atropela as palavras de vez em quando, é aquela história de "gaguejou tá fodido", mas é só mais um dos meus inúmeros devaneios desgraçados.

Então, se essa carta realmente chegar nas suas mãos, desejo que você a interprete da melhor forma possível. Eu desejo, também, que me deixe, que se desate dessas fantasias, que você seja imensamente feliz com quem quiser, e eu não duvido nada que isso já não esteja ocorrendo, mais um motivo pra eu ganhar o mundo, ser dele e nunca mais sua. Se é que fui sua.

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